Era chegado o momento: conhecer os sogros... Essa é mais uma daquelas situações que nos deixam desconcertados. Você nunca sabe se vai agradar, se vai ser aceito, se vão ser legais.
Serei metralhado com perguntas? Será que falo que reprovei o 3º ano? Talvez seja melhor não usar boné... Bem, mas também não adianta fingir ser alguém que eu não sou. Mas e se eles não gostarem do que eu sou?
Como será que eles são? Pela idade - perto dos 60 anos - devem ser bem conservadores. Aposentados, três filhos, ela professora e ele bancário... Uma típica família de classe média e pais normais.
Melhor não deixar aparente minha tatuagem. Se bem que o furo da orelha, mesmo tirando o brinquinho, eles vão perceber... Fazer o quê? Esse sou eu... O pior é se quiserem saber de emprego... Minha única fonte de renda é a mesada que papai deposita em minha conta para abastecer o carro. Melhor não entrar neste assunto...
Ok. Chega de blá, blá, blá... Já é meio-dia eo pessoal deve estar me esperando pro almoço.
Saí do carro e entrei na casa.
Fui recebido por uma mulher que mais parecia ser irmã de minha namorada! Bonitona, descolada, moderníssima! Minissaia, cabelo loiro e comprido, brincos grandes, unhas longas e vermelhas e uma gargalhada de ouvir de longe. Já veio logo me perguntando qual "birita" eu tinha trazido na sacola... Decidi dar uma desculpa qualquer e não entregar o clássico castiçal que tinha levado de presente.
Nem entramos na casa. Fomos direto para a churrasqueira que ficava nos fundos. Lá meu sogro tomava tequila com mais uns cinco amigos e fumavam um cigarro suspeito. Tinha três brincos na orelha esquerda, usava uma camiseta do Pink Floid preta e sem mangas e tinha a barba e o cabelo que há meses não viam uma tesoura. O que se via de seu corpo, tinha tatuagens.
Quando me viu, começou a tirar sarro da camisa polo listrada e do cinto que eu usava. "Ainda bem que os óculos estão no bolso", pensei comigo.
Lá pelas tantas, eu já estava verde de fome e com a barriga fazendo barulho de tanto tomar Coca-Cola. A carne foi servida com pão francês e só... Tipo churrasco de adolescente quando os pais viajam.
Não me perguntaram sobre estudos, trabalho, renda, crença ou história de vida. O que mais os surpreendeu foi o fato de eu não beber nem fumar. Eu é que parecia o "PAI" na situação.
Quando nos encontramos na noite seguinte, minha namorada perguntou o que eu tinha achado dos pais dela.
Respondi: "Pessoas ótimas, alegres e divertidas. Não me cobraram nada, me deixaram extremamente à vontade, nem sobre meu passado quiseram saber. Nunca me senti tão livre na vida!" E terminei o namoro!
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